Tecnologia na pisada!
Sempre ouvimos falar da importância da pisada e da escolha do tênis ideal para evitar lesões, principalmente em atletas e corredores. Mas qual é o melhor caminho para se fazer isso? Eu descobri que a ciência e a tecnologia são grandes aliadas para quem quer ser esportista sem lesões.
E para falar sobre a Biocinética e testes biomecânicos o Blog Esporte & Saúde conversou com o Fisioterapeuta, professor de Educação Física e Mestre em Engenharia Biomédica, Gustavo Leporace.
Blog Esporte & Saúde:
O uso da tecnologia hoje, nesses casos, é fundamental?
Gustavo Leporace:
Com certeza. Por mais que avaliações qualitativas possam gerar informações valiosas, quando usamos aparelhos de alta tecnologia, como os que temos na Biocinética, conseguimos QUANTIFICAR o quão alterado está o padrão de corrida e afirmar a causa específica (fraquezas ou encurtamentos específicos). Além disso, avaliações de alta tecnologia são altamente REPRODUTÍVEIS, possibilitando que em uma segunda avaliação seja possível determinar se o fator de risco identificado inicialmente ainda está presente e se o risco de lesão é baixo/alto. Com isso, é possível indicar INTERVENÇÕES OBJETIVAS, maximizando a chance de sucesso e reduzindo a tempo necessário para alcança-lo.
(B E & S) Quais os tipos de pisada que podemos ter?
Gustavo Leporace:
De uma forma bem superficial, podemos dizer que há três tipos de pisada: Pronada, Neutra e Supinada. No entanto, a pisada que denominamos “Neutra” é, na verdade, uma pisada pronada e o que chamamos de pisada Pronada representa um excesso de pronação.
(B E & S) Como identificar a pisada?
Gustavo Leporace:
Existem várias formas de identificar as pisadas. Pode ser pela filmagem, com uma câmera convencional, da região posterior do pé durante a corrida em esteira, pode ser por meio de uma técnica denominada Baropodometria ou até mesmo por técnicas menos usuais hoje em dia devido ao avanço tecnológico, como o plantigrama. O Plantigrama consiste de “sujar” a sola do pé com algum produto (talco, giz, tinta específica para pele etc) e pedir para a pessoa correr (ou caminhar). De acordo com o desenho formado do pé com o solo é possível estimar qual a pisada.
A Baropodometria mede a distribuição da pressão na sola dos pés, e quando há uma distribuição aumentada na parte de dentro do pé chamamos de pisada pronada e quando a pressão está aumentada na parte de fora chamamos de pisada supinada.
Apesar dessa última técnica ser a mais utilizada hoje em dia no âmbito da Biomecânica, ela possui uma limitação muito latente: Ela simplesmente mostra como o pé está funcionando. Muitas vezes a pisada pronada (ou supinada) é causada por uma alteração de movimentos da coluna, dos quadris ou joelhos, e é mais interessante e eficaz para prevenir lesões melhorar o movimento dessas articulações do que simplesmente utilizar um calçado específico. Hoje em dia, o padrão ouro na descoberta do tipo de pisada é a Avaliação Biomecânica Tridimensional do Movimento. Consiste em avaliar tridimensionalmente o movimento do corpo como um todo e entender se a alteração de pisada é específica do pé (e aí indicamos um calçado ou palmilha) ou se é de outra articulação (exemplo: uma fraqueza do quadril pode aumentar a descarga de peso para dentro, gerando uma pisada pronada. Se fortalecermos os músculos fracos do quadril o pé normalmente já retorna à posição normal sem precisar de um calçado ou palmilha específica).
(B E & S) Comprar o tênis de acordo com a pisada pode previnir lesões?
Gustavo Leporace:
Não há evidências científicas de que a utilização do calçado específico para um tipo de pisada previna lesões. Foi publicado um artigo em 2014 com mais de 7000 corredores na prestigiada revista científica Journal of Orthopaedic and Sports Physical Therapy (JOSPT) mostrando que a seleção de calçados baseada no tipo de pisada não reduz o risco de lesão em corredores. Ao contrário dos que muitos pensam, os calçados para pronadores e supinadores não têm como objetivo “corrigir” a pronação/supinação.
Em 2015 foi publicado um artigo de revisão no British Journal of Sports Medicine, escrito por uma das maiores autoridades no assunto em calçados de corrida, Dr Benno Nigg, apontando que o principal critério que deve ser utilizado para a escolha do calçado é o conforto individual durante a corrida e não no tipo de pisada propriamente dita.
Não quer dizer que não possamos encaminhar, por meio de avaliações biomecânicas específicas, o corredor a escolher um calçado que tenha maior probabilidade de ajustar mais adequadamente em seus pés. É importante salientar que os três principais tipos calçados hoje em dia são divididos em 3 categorias: Neutro, Estabilidade e Controle de Movimento. O tipo de pisada é somente um aspecto que influencia na escolha do “calçado mais confortável”. Outras variáveis também são importantes, como a curvatura do pé, necessidade de absorção de impacto de cada corredor e como é a mobilidade dos ossos do pé. Quando avaliamos todas essas características e somamos com o tipo de pisada, conseguimos sugerir calçados específicos que apresentam maior probabilidade de gerar conforto.
Existem evidências apontando que quando usamos tênis que não nos causa conforto, o número de lesões é maior do que quando usamos um tênis errado para a nossa pisada.
(B E & S) Qual a importância da biocinética na prevenção de problemas com pisada?
Gustavo Leporace:
Alterações no tipo de pisada podem estar relacionadas a lesões importantes, como canelite, dores no joelho, fraturas por estresse etc. A identificação adequada e precoce da causa da pisada inadequada permitirá a prescrição de treinamentos individuais ou seleção de palmilhas adequadas para a prevenção de lesões durante a corrida. Reitero mais uma vez que problemas na pisada podem levar a lesões, no entanto, os tênis não são feitos para corrigir essa pisada.
(B E & S) E para evitar problemas como: calos, bolhas e lesões ósseas?
Gustavo Leporace:
Na teoria, quanto maior o conforto do tênis, menor a chance de gerar bolhas, calos e lesões ósseas, no entanto, as evidências científicas são escassas. Minha experiência prática, associada à literatura disponível, me induz a normalmente indicar tênis com alto fator de amortecimento para pessoas que rotineiramente possuem esse tipo de problemas.
Inclusive hoje em dia alguns maratonistas e ultra-maratonistas têm utilizado um calçado classificado como maximalista, com altíssimo grau de amortecimento. (falamos sobre isso em breve aqui no Blog).
(B E & S) O que você diria aos corredores de Maratonas, meia maratonas, e outras corridas de rua?
Gustavo Leporace:
Muito mais importante do que se preocupar com o calçado “ideal” para o seu tipo de pisada, é entender como o seu corpo está funcionando durante a corrida para saber se existe algum calçado que poderá te gerar maior conforto. Além disso, existem diversos outros fatores diferentes do tipo de pisada que estão relacionados com a presença de lesões em corredores. Esses fatores de risco são identificáveis e se feito precocemente, há a possibilidade de indicar treinamentos adequados para reduzir a probabilidade de se lesionar.
Da mesma forma que a maioria dos corredores realiza check-ups cardíacos anuais antes de engatarem um treinamento para (meia) maratonas etc, é necessário um check-up músculo-esquelético para evitar lesões. Estudos apontam para uma prevalência de lesões em até 50% dos participantes a cada ano e a incidência variando entre uma a duas lesões por ano. Prevenir é melhor do que remediar!!
Lembrem-se que um dos principais fatores de risco para lesões esportivas é ter um histórico de lesões, ou seja, quanto menos você se lesionar durante os treinos, menor a chance de apresentar outra nova lesão no futuro. Para realizar essas avaliações, procurem profissionais de saúde especialistas em biomecânica para ter a certeza de que está realizando um teste em segurança e eficaz para seu objetivo. Tenham em mente que o custo de uma avaliação é menor do que o custo com a reabilitação de uma lesão.
Qualquer dúvida conheça o site www.biocinética.com
E muito Esporte & Saúde para você!